Angola apresenta ainda uma taxa de mortalidade materna e infantil
preocupante. A fraca cobertura sanitária, assim como a escassez de cuidados
médicos especializados, relativamente à saúde materna e infantil, são dos
principais fatores que contribuem para estas elevadas taxas num país onde
apenas 47% dos partos são atendidos por pessoal de saúde qualificado (dados
WHO 2016).
A Maternidade Lucrécia Paim (MLP), em Luanda, é o hospital de referência
para o atendimento materno e neonatal. Apesar de recentemente reabilitada
(2010) e com boas instalações, esta unidade de saúde enfrenta grandes
dificuldades para fazer face a uma procura superior às suas capacidades, as
quais decorrentes de elevada carência quantitativa e qualitativa de recursos
humanos especializados. No banco de urgência da MLP são atendidos entre
150 a 200 pacientes diariamente e realizados entre 60 a 80 partos/dia, sendo
internados no berçário/unidade de cuidados especiais cerca de 1000 recém-
nascidos por trimestre.

Na MLP assiste-se a um elevado número de partos prematuros e mortalidade
neonatal (65,25/1.000 nascidos vivos). As principais causas da mortalidade
neonatal são essencialmente infeções, prematuridade e asfixia, por exemplo no
3º trimestre de 2018, de 202 falecimentos, 56% foram por asfixia, 16 % por
prematuridade e 14% por sepsis. Também se assiste a uma elevada taxa de
mortalidade materna (718,58/100.000 nascidos vivos).
Desde abril de 2018 a MLP tem uma nova direção, motivada em melhorar as
condições assistenciais pelo que solicitou apoio à Fundação Calouste
Gulbenkian (FCG) para a formação de pessoal especializado (médicos e
enfermeiros), e para a criação e operacionalização de uma unidade de
cuidados especiais ao recém-nascido. A FCG por sua vez convidou a nossa
Sociedade Portuguesa de Neonatologia para ser parceira no apoio técnico para

a melhoria da prestação de serviços ao nível dos cuidados perinatais da
Maternidade LP num projecto com uma duração previsível de 2 anos.
A primeira missão foi de reconhecimento, realizada durante 3 dias em
dezembro, pelos Drs Joana Saldanha e Gonçalo Cassiano Santos. Seguiu-se a
primeira missão de trabalho em fevereiro com a duração de uma semana que
além dos primeiros ainda contou com a colaboração das Dra Gabriela Mimoso
e Enfermeira Graça Roldão.
Encontrámos um ambiente muito acolhedor e muito interessado em participar
na melhoria dos cuidados perinatais na MLP, quer da parte da equipa médica,
encabeçada pela Diretora da maternidade Dra Manuela Mendes, quer pela de
enfermagem. Algumas modificações já foram conseguidas, nomeadamente a
nível de práticas de higiene e desinfeção, boas práticas no tratamento do
recém-nascido na sala de partos e na unidade, formação de elementos da
maternidade e serviços de saúde afiliados e foi oferecido pela FCG um
aparelho de gasimetria e um aparelho de ventilação para se poder fazer
ventilação essencialmente não invasiva.
No entanto as carências são muitas, mas julgamos possivelmente
ultrapassáveis a curto-médio prazo com muito trabalho, esforço, vontade e
persistência de todos os intervenientes.
A terceira missão decorreu no final de maio com a mesma equipa e reforçada
pela Enfermeira Claudia Borges que ficou 2 semanas no terreno. E outras
acções terão de ser programadas, nomeadamente a vinda de médicos e
enfermeiros angolanos para unidades portuguesas, sendo que a FCG e a MLP
são as responsáveis pelo integral financiamento de cada missão.
Trata-se de um desafio muito importante para os nossos colegas Angolanos e
para nós próprios, equipa neonatal, que temos de sair da nossa zona de
conforto de cuidados neonatais de ponta e desenvolvidos para adaptarmos as
boas práticas neonatais ao contexto existente e assim podermos melhorar
muito a vida dos recém-nascidos de Luanda e suas famílias.
Estamos a precisar de formar mais equipas para novas missões, por isso
qualquer sócio que pense poder colaborar neste projeto por favor entre em
contacto com a Direção da SPN.